sábado, setembro 03, 2011

A ENTREVISTA DE RICARDO CARVALHO À RTP1.

        
            Luís Baila (LB): Foi uma situação que marcou a actividade desportiva dos últimos dias.  Ricardo Carvalho (RC), com mais de 70 internacionalizações pelas selecções portuguesas, inesperadamente abandonou o estágio da selecção.
             LB -Perguntava-lhe exactamente isso: fugiu do estágio? Foi uma fuga?
             RC -Claro que não, foi um sentimento muito forte que tive naquele dia, foi a quente. Quando cheguei do treino achei que não me tinham respeitado e achei que estava a mais. Foi o sentimento que tive, senti isso, e., assim que cheguei ao quarto nem troquei de roupa, peguei na minha mochila e fui directo para o carro e, naquela altura, não foi nada premeditado. Como estava com a cabeça quente acabei por não falar com ninguém, que foi o meu grande erro, nesse aspecto, não falei com nenhum dirigente, com os directores da Federação.
        

             LB. -Mas quando sentiu que foi atingido na sua dignidade profissional, foi durante aquele treino?

             RC -Sim, porque durante a semana, naqueles dois dias, treinei sempre, treinei bem, o próprio treinador Paulo Bento disse que estava muito bem e outros colegas do mesmo sector não o fizeram e nesse dia tivemos um trabalho táctico e eu fui posto de parte.
             LB. -Achou que não ia ser titular
             RC -Apercebi-me que aquele lugar estava reservado apesar  do meu colega não ter treinado
             LB -Não tinha treinado da mesma forma.
             RC - Da mesma forma;  não foi uma questão de respeitar ou não uma opção do treinador Paulo Bento foi, sim, de não respeitar o meu trabalho que estava a ser feito e em que estava empenhado, queria ajudar o meu país, sinto-me bem e naquele momento passou-me tudo pela cabeça e reagi daquela maneira.


             LB -Está arrependido de ter reagido daquela forma, de ter abandonado a selecção, o estágio?
             RC -Arrependido , não, porque acima de tudo sempre respeitei os treinadores. Neste caso não era bem a opção.
             LB -É um sentimento de injustiça?
             RC -É um sentimento de injustiça, porque eu eu estive sempre, estive sempre a dar o meu melhor, não me foi dirigida uma palavra e pelo meu percurso, pela pessoa que sou, penso que deveriam ter tido mais consideração, penso que deveriam ter tido mais consideração para comigo e por isso quando cheguei ao hotel como estava com a cabeça quente não pensei duas vezes, saí com a própria roupa do treino e acabei por pegar no carro e vir embora.
             LB -Houve alguma tentativa de falar com Paulo Bento, no fim do treino?
             RC -Não me passou pela cabeça, estava tão desorientado naquele momento e sentia que estava a mais na selecção naquele momento. Penso que foi uma grande injustiça, naquele dia tinha treinado bem, tinha estado bem, tinha dado o meu melhor e quando apareceu o meu colega que não tinha treinado, chega no trabalho táctico e vai directamente para a equipa principal e eu sou posto de lado e reagi um pouco...
             LB -Está a falar do Pepe, não é?
             RC - Sim foi o Pepe, toda a gente sabe.


              LB -Tinham jogado os dois pelo Real Madrid com o Saragoça, não é?
              RC -Sim, jogámos bem, normalmente também jogamos no selecção, não é nada de pessoal contra o Pepe é sim com o treinador porque no fundo estive ali, estava a trabalhar, a dar o meu melhor e não fui respeitado por isso.
              LB -Já tinha havido algum problema antes com Paulo Bento (PB), na selecção?
              RC -Nem com PB nem com ninguém nunca tinha tido problemas com ninguém, passou-se pela primeira vez esta situação, penso que o PB não respeitou o meu trabalho que estava a fazer, nem me dirigiu uma palavra nessa altura e, como estava de cabeça quente acabei por chegar ao quarto e estava a sentir-me mal, estava a sentir que estava a mais e acabei por sair e ainda hoje sinto que houve um  grande desrespeito perante mim.
               LB - Para os adeptos de futebol que estão de fora e conhecem bem o RC, se calhar parece pouco aquele episódio para uma decisão tão radical e abandonar a selecção, que foi no fim o que o Ricardo fez, não é?
              RC -É verdade. Posso tentar explicar, para mim a selecção era, é, muito importante. Não foi fácil chegar a internacional A;  quando o fui já tinha tenho jogado bastante pelo meu clube que é o Porto, quando comecei a jogar já tinha vencido a Taça UEFA, já tinha vencido a Liga dos Campeões, uma Liga portuguesa e custou-me. Era um sonho e continua a ser um sonho representar o meu país, tenho muito orgulho em representar o meu país, e por isso se calhar custou-me mais que o normal quando senti que o mister estava a ser injusto comigo, reagi um pouco a quente , tudo bem, acabei por sair e deveria ter falado antes, principalmente com os directores que sempre me respeitaram e eu tenho também grande respeito por eles também.
             LB -PB fez declarações fortes, designadamente que virou as costas ao país, que o Ricardo...sente isso, que virou as costas ao país?

             RC -Eu não, não, não sinto. Recentemente tivemos vários problemas na selecção, são públicos, eu sempre me pus à parte, achei que os responsáveis federativos decidissem, não abandonei como alguns colegas acabaram por fazer, fiquei com o grupo a dar as boas vindas a todos os mais novos que chegaram. Isso também me entristece um  pouco porque no fundo houve um certo aproveitamento do treinador  neste episódio, que não foi o mais correcto da minha parte, para tentar agora pisar-me e massacrar-me um pouco e eu isso nunca fiz com ninguém, com nenhum treinador, sou directo e acima de tudo falo na altura não deixo que as pessoas cometam um erro ou outro para depois aproveitar o momento e tentar pisá-lo.
            LB -O Ricardo pensa que se calhar está a servir de exemplo, como que "temos de tomar aqui uma decisão forte em relação e ele"...

            RC -Sim, mas eu também sei o que sou, não tinha premeditado e Paulo Bento teve 24 horas e eu não; cheguei ao quarto, saí com a mesma roupa e durante a viagem liguei ao director a tentar, no fundo, dar as razões porque é que tinha saído e neste caso do treinador foi um dia antes do jogo Estar a falar no meu assunto quando o mais importante era falar sobre o jogo. Tudo bem, poderia ter respondido a duas ou três perguntas e não passar todo o tempo a falar do meu caso.
           LB -Sei que houve uma palavra de Paulo Bento que o deixou, que o magoou muito que foi a palavra desertor, dizer que o Ricardo foi um desertor quando saiu da selecção daquela forma. Isso foi uma palavra que o magoou?
          RC -Sim, sim.
          LB -Acha que foi muito forte, não merecia aquilo?
          RC -Foi muito forte. É uma linguagem militar e chamar-me desertor, eu também com a mesma llinguagem poderia chamar-lhe mercenário, não é, porque quando se vai para a guerra paga, quando se vai para a guerra paga e não se vai por paixão e amor ao país, chama-se mercenário. Eu estou na selecção por amor, pela paixão e o seleccionador está na selecção porque lhe pagam para ser seleccionador, entristece-me porque apesar do que se passou, acho que não merecia. É muito forte, é muito forte e acho que não merecia e não admito que me tratassem dessa maneira.
          LB -Não queria que acabasse assim a sua participação desta forma, naturalmente? Isto é um ponto final, tem consciência disso, não é? Pelo menos enquanto lá estiver PB não há hipótese de regressar? Ele já disse isso.
          RC -Já disse, sim. Nunca se sabe, mas já disse. Eu por mim, claro eu nunca iria dizer, e disse-o aos meus colegas que nunca iria renunciar à selecção. Neste caso, foi um caso à parte. Respeito as opções e se um dia mais tarde quiserem contar comigo eu, se acharem que eu posso ainda ser útil, estou disponível, sim.
          LB -Imagine, agora, uma aproximação, uma conversa entre si e Paulo Bento, de homem para homem, isso podia mudar a situação?
          RC -Isso é especulação está tudo muito a quente, eu próprio passei estes três dias em que nem consegui descansar, portanto, ainda é muito cedo.
          LB -Por todos os clubes onde passou o Ricardo foi sempre um jogador top e um jogador que jogou sempre na equipa titular, acarinhado por todos os treinadores, por isso é que surpreende mais se calhar esta situação. Se fosse outro jogador se calhar não surpreendia tanto. Sendo o RC a viver esta situação é que é mais...
          RC -Felizmente posso orgulhar-me do meu passado  e do meu presente, também;  esta situação,levou-me ao limite, acabei por sair de cabeça quente, não falei com os directores quando devia ter falado, para mim foi o meu maior erro mas o meu passado fala por mim. Tudo que fiz durante estes  anos e vou continuar a fazer, seguramente.

          LB -Falou com o José Moutrinho, nestes últimos dias, já após esta situação?
          RC -Sim falei, falei com  várias pessoas, em Madrid.
          LB -Sentiu apoio por parte do Real Madrid nesta situação?
          RC -Sim, falei com várias pessoas que estão dentro do clube, com vários colegas também e, claro, são meus amigos, ligaram-me para me dar apoio e dizer que para eles era sempre o número um e que me respeitavam e orgulhavam de me ter na equipa.
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            LB -Ricardo Carvalho, com 33 anos, que já foi considerado várias vezes o melhor central do mundo vive agora uma situação complicada e difícil quando decidiu de cabeça quente abandonar o estágio da selecção nacional que estava a poucos dias de defrontar o Chipre num jogo de apuramento para o Euro 2012.
         
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2 comentários:

  1. Amigo :

    A minha opinião é muito simples :

    a)Ricardo Carvalho não devia ter abandonado a selecção ;

    b)Paulo Bento não devia ter dito o que disse .

    Um abraço

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  2. Azul Dragão:

    Ricardo Carvalho X Paulo Bento;
    1º Round: empate técnico.
    Bom fim de semana.

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