quinta-feira, agosto 11, 2011
UM EMBLEMA COM HISTÓRIA.
O emblema.
Esta história que vos quero contar sobre o meu emblema do Futebol Clube do Porto, é verdadeira, embora os contornos incríveis que o devolveram à lapela do meu caso depois de lá ter desaparecido sem que disso me tivesse apercebido possam ser considerados, no mínimo, extraordinários.
Eu esperava poder legar ao descendente mais velho da minha família um símbolo da minha paixão clubista, uma marca pessoal para a posteridade que contivesse as emoções, as alegrias e também os momentos menos felizes, que os tive, do meu percurso de vida terrena desde que aprendi, no dealbar da infância, a cultivar dentro de mim o imenso orgulho de ser portista.
Quando me decidi a comprar o emblema do Futebol Clube do Porto que entra na história que intentei divulgar, já lá vão algumas dezenas de anos, nem dei que o valor despendido representasse o vencimento de alguns meses de trabalho, tanta era a determinação de alcançar o objectivo a que me propusera. O gozo da posse do ícon sagrado suplantava a ténue resistência da razão.
A partir dessa altura o inconfundível e distinto emblema que ostenta o dragão invencível das armas da "antiga, mui nobre, invicta e sempre leal cidade do Porto" não mais deixou de aparecer, brilhante e sedutor, às vezes quiçá provocador, na aba do lado esquerdo do casaco domingueiro. Há coisas em que a vaidade merece ser tolerada.
Aconteceu numa ida ao Estádio das Antas para ver mais um Porto-Benfica, azaradamente de não boa memória para nós porque o resultado final nos seria adverso por 0-2, de que resultou a quebra de um longo jejum de dez anos sem saborear uma vitória no nosso estádio por parte da equipa da Dona Victória e o adeus ao título de campeão desse ano, ao FCPorto.
Já instalado no automóvel para o desencantado regresso a casa dei conta de que não tinha, na lapela, o distintivo que ali tinha a certeza de ter colocado antes do início da viagem para o Porto. A primeira reacção foi de incredulidade, de desalento perante a irremediável evidência, logo depois. De nada valeram as palavras de conforto dos companheiros que me acompanhavam e as hipóteses que levantavam de, ao contrário do que eu pensava, o não ter colocado no casaco e poder ter ficado em casa, o que, obviamente, não foi confirmado.
No domingo seguinte, instado por um amigo, acedi a acompanhá-lo numa curta deslocação a Vila Fria, uma freguesia da margem esquerda do Lima, onde o clube da minha freguesia, o UDL, iria disputar um encontro a contar para o campeonato distrital da AFVC. Desde há muito tempo que tinha deixado de assistir a jogos deste escalão que não se realizassem em Lanheses mas, perante a insistência acabei por anuir ao convite.
Chegados ao destino com tempo de aceder ao local do jogo, resolvemos entrar num cafezito das imediações e, instalados na única mesa disponível, na conversa trivial ali encetada veio à baila a história do meu rico emblema desaparecido. Estas conversas de café, mesmo que o tom de voz seja moderado, são facilmente audíveis pelos presentes e, mesmo que o assunto não nos diga respeito, sempre se ficam a saber os temas abordados. Desta vez, na mesa ao lado da que ocupávamos eu e o meu companheiro, estavam conterrâneos nossos com os mesmos propósitos de assistir ao jogo entre dos quais, M. Militão, que conhecia muito bem, e ele a mim, mas não tínhamos uma relação muito próxima por força das diferentes funções profissionais que ambos desempenhávamos e os locais onde as exercíamos. Curiosamente, também não o tinha como habitual acompanhante do UDL em jogos fora de portas, pelo que a sua presença ali poderia constituir uma excepção. Foi, então, aí, que M. Militão interveio na conversa e pediu esclarecimentos mais pormenorizados sobre o desaparecimento do precioso distintivo, no que o esclareci com os dados que me solicitou.
Perante a minha estupefacção, informou-me de que ele tinha encontrado um emblema com as características daquele que eu havia perdido (ou me tinham roubado) e, de volta a Lanheses, foi imediatamente buscá-lo a sua casa para eu poder confirmar se se tratava, efectivamente, do meu o que imediatamente confirmei, sem réstia de quaisquer dúvidas.
Naturalmente, procurámos recompor as incidências da perda e posterior achado do emblema, tendo chegado à conclusão de que tudo se terá passado da seguinte maneira: antes de me juntar aos meus companheiros no automóvel em que habitualmente nos deslocávamos para ir às Antas, (éramos uma equipa de cinco elementos) estacionei o meu carro junto ao então posto de abastecimento da Galp, no Largo da Feira e, em resultado de qualquer gesto para ajustar o cascol do FC Porto que sempre ostentava à volta do pescoço nas deslocações onde actuasse o meu clube, o emblema caiu no local sem que me apercebesse. Alguns dias depois, foi M. Militão a arrumar o seu automóvel ali perto e, ao sair da sua viatura, deu pela jóia perdida recolhendo-a, ficando a aguardar que o legítimo dono aparecesse a denunciar a perda.
O fim feliz deste episódio não está, apenas, na recuperação dum precioso (e valioso) objecto de muito significado para mim, mas acima de tudo, na convivência que, desde então, venho a ter com o meu amigo M. Militão, entretanto radicado definitivamente em Lanheses e estabelecido no ramo da ourivesaria, solidificando cada vez mais uma relação de amizade e elevada consideração mútuas, que radica em valores que ambos cultivámos e perfilhámos, com o privilégio de comungarmos a mesma paixão incomensurável e incondicional pelo maravilhoso emblema do Futebol Clube do Porto.
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Imagino, ver e engolir aquele 0-2, com o Carlos Valente a arbitrar e o juíz de linha, do lado do banco do Porto, com um defeito no braço e a levantar a bandeira cada vez que o Dragão atacava e ainda perder essa preciosidade, deve ter sido de morrer... Mas há sempre um Militão sério à nossa espera e depois de tudo, só ficou mesmo o amargo da derrota, num jogo que quisemos ganhar, mas que há posteriori, concluímos que o empate chegaria.
ResponderEliminarAbraço