domingo, setembro 19, 2010

O CASO DO SELECCIONADOR DESCARTÁVEL.

    

 José Mourinho (foto Record)
    
         Deixando para trás o rocambolesco despedimento coercivo do professor Queirós das funções de seleccionador nacional de futebol, que decapitou o comando técnico da equipa nacional portuguesa com reflexos imediatos nos desastrosos resultados obtidos contra o Chipre (4-4), em casa e na Noruega (1-0), a insólita e peculiar ideia da sua substituição por Mourinho, como quem vai a um supermercado comprar, de urgência, um pacote de fraldas descartáveis e o show-off que envolveu a tentativa de ele aceitar o "biscate", é verdadeiramente um desconchavo total onde se destacaram dois protagonistas principais: o previsível Madail e o improvável Mourinho.

          Ainda que alguém advogue que a ideia do presidente em confiar a Mou o milagre do apuramento para o Euro-2012 tenha algum substrato a viabilidade da colaboração do actual treinador do Real Madrid e os resultados que daí eventualmente acontecessem, ninguém poderia garantir virem a ser muito diferentes dos obtidos pelos médicos do INEM chamados para uma emergência ao local do acidente já depois dos feridos terem entrado em coma.

          Incompreensível, também, não ter sido o assunto abordado, pelo manos na sua fase inicial, com recato e discrição que o caso exigia, recorrendo-se para isso aos meios privados de contacto, sendo de todo confusa a viagem a Madrid do presidente da FPF sem a garantia de sucesso.

          Quando chegou ao Real, o "melhor treinador do mundo" jurou a sua entrega total ao trabalho que o esperava predisposto a pensar "24 horas por dia" só e apenas no clube que Florentino Pérez lhe confiou. Conhecendo-se a grandeza do historial dos madrilenos e o momento menos bom que atravessa por falta de vitórias ao nível a que está habituado, entender-se-ia que, mesmo muito honrado com o convite, o recusasse liminarmente. Não foi assim; estranhamente, em tom algo enigmático e palavras dúbias aceitou, condicionando o sim à compreensão do presidente do clube.

          Tudo parece politicamente correcto mas há detalhes que merecem alguma análise. Sendo admissível que Mourinho não tivesse dúvidas quanto à posição do seu clube em recusar o pedido português, se não directamente pelo menos pelo que a imprensa espanhola publicava, por que sujeitou Madail à humilhação de ir à presença de Pérez para o ver de dedo polegar esticado para baixo? E, depois, alguém acredita que o José vai estar em Chamartin dez dias em repouso? Só lá tem três jogadores?

          O Real Madrid vai à frente no campeonato espanhol. Mas o nível exibicional tem sido pobre, as vitórias muito sofridas e longe do que o público merengue gosta. Ontem, acabou por ganhar um jogo que não merecia pois foi claramente inferior ao Real Sociedad, como ele próprio reconheceu no final da partida. O futebol praticado e o nível de prestação individual dos jogadores (Ronaldo está "a milhas" da forma que o celebrizou) é, neste momento, muito vulgar. Valdano e Florentino Pérez, não deixarão de fazer chegar a José Mourinho a mensagem de que esperam muito mais do "melhor treinador do mundo"...

PS. Corre na imprensa portuguesa e espanhola a notícia da nomeação de Paulo Bento para treinador da selecção das quinas, como antes se previa, poupando-se, deste modo, a deslocação de Gilberto Madail a Madrid para ouvir o "no" de Florentino Pérez.
       

3 comentários:

  1. Caro Remígio
    Este José,permanece, para mim,um" mistério" tão insondável,como o outro José(bíblico) da ...Nazaré.A diferença, é que nos contam deste, a maravilha da humildade,a singeleza da vida...o outro,ao invés, NÃO cabe no ego e faz da arrogância, um dos traços mais marcantes da sua personalidade... Cada um é como é,diz o povo. Concordo,mas,como NUNCA lhe perdoei a maneira como, de nós,portistas,se "despediu"...agora não lhe desculpo a sobranceria,altivez e às vezes,a ordinarice com que vai pautando as suas atitudes e que a CS nos vai mostrando...
    Esta rábula de vir (embora "a patacos") "salvar" em dois jogos, a n/(pobre) selecção,tem,qto a mim,tanto de extraordinário como os "milagres" da sra.da ladeira...e vem mais uma vez, (infelizmente) mostrar-nos como somos sebastiânicos e confrangedoramente ...pequeninos,sempre à espera do redentor ,chame-se ele: salazar,guterres,sócrates,e agora -pelos vistos-simplesmente - zé(mourinho)! Oito séculos d'história,PORRA!
    Para finalizar só nos faltava o ... paulo!Ah! se a BENÇÂO (de bento ) nos cobrisse !...
    Boa noite,desportiva.
    Abraço amigo
    João Carreira

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  2. Caro João:

    Escreve sobre o Mourinho aquilo que eu gostaria de saber fazer, por isso, só posso dizer que estou inteiramente de acordo com o conteúdo e forma do seu excelente comentário.

    A nossa selecção já teve um seleccionador "sargentão". Pensemos que agora vamos ter um "cadete", talvez um "aspirante". Não sou grande coisa a fazer prognósticos e, sendo assim, estou como o "nosso velho" João Pinto: prognósticos...

    Desejo-lhe que feche o dia com chave de ouro.

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  3. Segunda-feira, 20 de Setembro de 2010
    (sem) a cor do dinheiro


    "Vou a custo zero, nem quero que me paguem a gasolina."

    (josé mourinho, sobre vir a poder orientar a 'selecção' 'à façon')



    quando alguns se aperceberam que neste 'negócio' josé mourinho, afinal, não havia negócio nenhum, não existiam 'comissões' sobre e debaixo da mesa, para ninguém!, todas as partes envolvidas abandonaram rapidamente o palco.

    todas, não!

    o bom do zé, nesta cena, ainda na madrugada de sábado, em 'san sebastian', dizia não perceber uma série de coisas...

    quando aterrou em 'madrid', uma hora e pouco depois, já alguém (o jorge valdano(?)) lhe explicara tudo o que este não percebera.
    ..............................................
    Caro Remígio
    (mais)Uma maneira de analisar o caso do treinador (a feijões),na perspectiva de ex-dirigente e sábio (penso eu...) nestas questões do pontapé-na-bola- In Blog de António Boronha-
    Abraço
    João Carreira

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