sexta-feira, abril 23, 2010

TÚNEIS E CANAIS.

            Entre a França e a Inglaterra já havia um, o da Mancha. Depois, apareceu o túnel a ligar, sob o mar onde Baptista Pereira batia recordes, a Grã-Bretanha ao resto da Europa.
            Em Portugal  cultiva-se o gosto de imitar o que lá fora se faz, na esperança de se manter na rota dos pelintras indigentes que se sustentam dos restos que sobejam do banquete dos seus parceiros ricos da Europa. Mas, se nos sustentam, não estão obrigados a conviver com a nossa presença nem a dividir connosco os mesmos espaços físicos pelo que tivemos nós que escolher os nossos próprios hábitos e formas de vida específicos.
            Por isso, também nos orgulhamos de ter criado entre nós o CANAL CAVEIRA, para bater recordes de batotas desportivas, congeminando mafiosas estratégias para derrotar adversários ingénuos. Ao longo do tempo, este poderoso canal acabaria por ramificar-se, estendendo-se, qual povo de muitos braços, por sítios ainda mais íntimos, como sejam restaurantes, aviões, paragens paradisíacas no Pacífico, alcovas esconsas de hotéis de luxo, off shors, e a sua fama, aos poucos, decresceu como a aurea de uma estrela de cinema que envelhece.
            Foi preciso inovar e, então, chegamos aos TÚNEIS não já para permitir a passagem de comboios, mas para servirem de esconderijo a uma nova espécie de ratazanas a que chamaram stwardes só para encobrir a designação portuguesa, importada do Brasil, que identifica a actividade de capangas assalariados.
           Superando ingleses e franceses, ficou provado, pelo menos este ano, que a riqueza não provém a maior parte das vezes, do suor e da honestidade de procedimentos. E que, uma vez obtida, não faz grande diferença para memória futura, os processos usados para a alcançar.
           Disse o professor Machado que um vintém é um vintém e um cretino não passa de um cretino. Pois, também para mim, um ladrão rico, só porque é rico, nunca deixará de ser ladrão.
           
           
         

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