quinta-feira, maio 27, 2010

VIENA: O DIA DO DANÚBIO AZUL.

                  27 de Maio de l987, Estádio do Prater, Viena.
    Fosse eu um Álvaro Magalhães e este post seria o mais lindo e arrebatador que pudesse escrever, à altura de emoção sentida na Final Mágica de Viena, da alegria partilhada com os companheiros da aventura iniciada nesta terra do lendário Lethes perdido no norte de Portugal, até à cidade da valsa nas margens do grande Danúbio, que a nossa fé havia de fazer azul, para terminar oito dias e sete horas após um percurso de cinco mil quilómetros através de seis países da Europa!
    Que sensações, que aventura. Que ansiedade vivida, que medo de não entrar no céu que se abria para nós e beber a taça da alegria, que momentos de esquecimento do real para viver o sonho!
    Aqueles últimos segundos foram um martírio, um suplício inaudito! O tempo parou e nós já não estávamos ali, sós, mas muitos, unidos pela chama da nossa crença, olhos pregados nos ponteiros sádicos do relógio, ele também a torcer contra nós por cima das cabeças da claque bávara, contando segundos como se de horas se tratasse.
    Terminouuuuuu! Campeões, campeões da Europa, -"da Europa, da Europa, repetia um companheiro grisalho, com uma bandeira na mão, de olhar perdido: "da Europa, da Europa", só dizia, abraçando e beijando, perdido na bancada.
    No fim,o delírio da celebração pelas ruas de Viena: a provocação de um grupelho, a pronta protecção policial,  a saída tardia à procura de dormida, a tentativa falhada em Graz para pernoitar, a directa até à Jugoslávia, onde, numa pousada "duvidosa" nos fecharam a porta na cara, a transposição da fronteira para a Itália, com o imperdível diálogo com os carabineri, o descanso, por fim, em Savona (Génova). Para trás, ficaram os aplausos de dentro de um táxi de uma italiana fogosa e entusiasta, as palmas dos habitantes das localidades que íamos atravessando quando identificavam pelas bandeiras que levávamos desfraldadas, as palmas no país basco de um automobilista que nos fez parar na estrada para nos felicitar, com alguma apreensão nossa por nos encontrarmos em pleno país basco e não sabermos das suas intenções, a decepção ao ver a primeira página do sábado seguinte do jornal de referência desportiva em Portugal, que nos foi facultada por alguém que seguia no mesmo sentido no seu automóvel e se apercebera da nossa presença e muita, muita aventura.
    E, Madjer, o predilecto de Alá, o Profeta. O GOLO! A obra prima, a Gioconda, o génio de Miguel Ângelo a Vénus do Nilo! Tudo: no gesto, na pose, na arte, na tranquilidade, o argelino criou a OBRA. Impossível de repetir: no clima, no estilo, na oportunidade na serenidade de quem sabe fazer. Não mais alguém verá igual!
    E, Juary, virado para nós de braços abertos, ali no cantinho, a formar uma pirâmide com os companheiros da equipa!
   "HAVEMOS DE IR A VIENA", era o slogam inscrito na nossas facha. Éramos, então, cinco a mostrá-la ao redor do estádio, antes do jogo, aos olhares trocistas dos arrogantes alemães.
     Nesse dia soube que, a felicidade plena, só a alcança quem tiver ALMA portista!
    

   
   
 

1 comentário:

  1. Meu caro amigo, modéstia a mais é vaidade. Você vale por si próprio...Qual Álvaro Magalhães,
    qual carapuça!

    Um abraço

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