quarta-feira, maio 27, 2020

VIENA, QUARTA-FEIRA, 27 de maio de 1987

         Tarja pintada pelo pintor-escultor Manuel Vieira (1957)



      Cinco dias após a saída de Portugal (sábado dia 23 de maio, pelas 15:00h) pela fronteira de Valença, chegávamos a Viena de Áustria. Eu, o Rogério Agra, o filho deste Carlos Agra, Rogério Vale e Dino Vieitos; já na capital austríaca passámos a sete com o encontro ocasional a caminho da fronteira de Salzburgo, dos amigos Lucínio Araújo e Ângelo Araújo.


    Almoçámos. Bife simples, cozinheiro idoso sem pressa e um avantajado doberman preto ali ao lado a entreter-se com uma bola de futebol, a desfazer-se.


   Pelas 16:00h (TMG), chegámos e estacionámos no amplo Parque do Estádio do Prater, o Citroen do Rogério.


   Depressa demos conta da superioridade numérica dos bávaros, aparentemente tranquilos, com ar indiferente e tolerante, despreocupado.


   Portugueses...? Bah.


  
Passados 33 anos ainda não sei como escapámos ilesos a um linchamento público, quando demos a volta ao Estádio, a passo de procissão, onde já aguardavam a abertura das portas grande parte das falanges de apoio germânicas, exibindo uma faixa com mais de cinco metros onde estava escrita a mensagem "Havemos de ir a Vi(ae)na: nem um dichote, mesmo que fosse em alemão, nem o mais insignificante dos insultos ou mínimo gesto de agressividade. Desprezo total. 



      Às 20:00 horas, estávamos dentro o Estádio pintado a vermelho pelas camisolas e bandeiras dos "donos disto tudo". Portugueses, sim, quinze, vinte mil. Idos de Portugal e portugueses emigrantes. Esgotado.


     Começou o jogo. Primeiro tempo, alguma angústia, pressão máxima, mas fé inabalável. A equipa demonstrava calma.


    Porto! Porto! Porto! Portugal! Portugal! Portugal! O 0-1 não era o fim, mas incomodava. Impacientava.



    A segunda parte passou a estar do nosso lado da bancada. A baliza da fortuna, o cofre de ouro do Bayern desmontado pela inspirada magia de Rabath Madjer e a rapidez de um raio fulminante de nome Juary, prodigioso. Passámos para a frente, 1-2, o marcador virou esperança, mas nada (ainda) terminou. Será? Será?. Ah, coração que não cabes já no peito.


   Últimos segundos expectantes, dramáticos, como se o tempo tivesse adormecido. Um livre, a barreira não fura, o coração voltou a bater, à pressão máxima.


   Terminou!!! Campeão, campeão da Europa! -Da Europa, da Europa, ouvia-se da voz rouca de emoção de um vianense veterano a subir os degraus ao nosso encontro agitando, frenético, uma pequena bandeira do nado Campeão.


   Campeão europeu! A cores, para Portugal ver. Inédito.


   Há momentos únicos da vida que levámos connosco até ao último suspiro.


   Viena, para sempre!"


   Futebol Clube do Porto, eterno campeão.

 
Fotos: Remígio Costa

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