A nossa convivência na juventude não foi permanente nem de total proximidade. Distanciava-nos, a meu favor, o número de anos de idade e o diferente regime de vida e educação familiar de cada um de nós. O do Nelson mais rigoroso e controlado não lhe permitia contatos livres com companheiros fora do círculo limitado da família.
O Nelson e a mãe um dia emigraram para França. Durante um largo período, não tivemos oportunidade de nos encontrar, conversar e mutuamente consolidarmos laços de amizade, a não ser nos curtos períodos de férias que passava com os seus parentes próximos residentes em Lanheses ou com familiares na terra da naturalidade, lá para as proximidades de Vila Nova de Famalicão.
Já com a reforma garantida, deixou a emigração e regressou definitivamente para se fixar com a progenitora em Braga, em apartamento próprio; mas, vinha na viatura própria com frequência à sua terra adotiva para estar com os amigos. Entretanto, os encontros entre nós tornaram-se mais assíduos e a amizade cresceu e consolidou-se.
Viria a viver sozinho após o falecimento da mãe, mantendo domicílio na cidade bracarense.
De todos os amigos com quem me cruzei na vida não recordo outro que reunisse tanta simpatia e qualidades de conversador versátil e humorístico, pondo em tudo quanto dizia um condimento de graça e de inteligente sentido alternativo.
O encontro era (sempre) precedido da enfática expressão: -olá, amigo, colega e familiar portista! -Familiar portista, sublinhava, de braços abertos para o abraço firme e amplo. E a conversa mantinha-se por tempo indeterminado, de sorriso pronto e saudável, à volta do nosso Clube comum, o Futebol Clube do Porto.
Depois, as visitas começaram a rarear. O Nelson ficou doente, passou pelo Hospital, voltou para a solidão do apartamento, deixou de poder conduzir. As notícias sobre ele e a forma de vida deixaram de me chegar.
Soube do seu apagamento por um amigo comum, mais de uma semana depois do infausto momento ocorrido há já alguns meses. Lamento não ter tido com ele um último instante para lhe manifestar toda a minha amizade e agradecer-lhe os momentos sempre agradáveis que vivemos, devolvendo-lhe o abraço e a saudação tão peculiar -olá, amigo, colega e familiar portista!. Familiar, portista!
Até sempre, Amigo Nelson.
(Sabes? O nosso Porto é, de novo, Campeão...)