segunda-feira, maio 29, 2017
"HAVEMOS DE IR A VI(E)NA"
Este cascol percorreu há trinta anos mais de quatro mil quilómetros preso ao vidro do automóvel que levou a Viena de Áustria cinco portistas, percorrendo estradas de sete países da Europa numa viagem de oito dias e sete horas e meia.
Vivemos acontecimentos impossíveis de traduzir por palavras ditas ou escritas. No decorrer do percurso de vida, há momentos que abalam a nossa sensibilidade e extrapolam de tal modo o nosso comportamento que nos elevam a impensáveis patamares de emoção e gozo espiritual.
Em 27 de maio de 1987, vivi em Viena de Áustria uma das sensação mais inebriantes que até hoje me aconteceram. No então denominado Estádio do Prater, o Futebol Clube do Porto sagrou-se campeão da Europa de futebol batendo espetacularmente a equipa bávara do poderoso Bayern de Munique, obtendo um triunfo e uma exibição que espantaram o mundo de futebol.
Rabath Madjer, sobredotado executante e mágico inspirado, criou e patenteou a sublime obra de arte do golo da esperança ao restabelecer a igualdade no marcador, e concebeu logo depois o magistral centro para Juary aparecer do nada para nos trazer a glória e o paraíso.
Vejo-o, agora, à minha frente de braços levantados num gesto de êxtase, logo abafado numa pirâmide de corpos agitados, loucos, furiosos, como predadores a consumar a morte da besta ferida.
No topo da bancada vermelha silenciosa e pasmada, os ponteiros do grande relógio suspenderam o ritmo normal, adormeceram como lesmas nojentas, a poucos minutos da entrada no céu. E, quando depois de gorado o pontapé do livre contra a barreira à frente do enorme Mlynarzik o árbitro sobrescreveu o veredicto, ficou consumada pela vez primeira a legitimidade da ostentação da coroa de louros do título de melhor equipa da Europa: FUTEBOL CLUBE DO PORTO!
Depois... depois não sei. Não fui eu, não fomos nós todos os portugueses que ocupávamos uma parte da bancada lateral, segurando a longa tarja com o slogan "HAVEMOS DE IR A VI(E)NA" com o desenho de pintor Salvador Vieira representado por um casal de bailarinos minhotos, na dança do vira. Abraços, choros, gritos, e palavras roucas, desbragadas, silêncios de recolhimento, gestos de afeto trocados com assistentes anónimos que quiseram solidarizar-se com a nossa emoção.
Sim, "Havemos de ir a Vi(e)na", voltaremos a Gelkirshen, iremos até outro qualquer ponto do planeta ou mesmo do espaço, levando connosco o amor sem condições ou medida do inigualável Clube triunfador FUTEBOL CLUBE DO PORTO.
Foto: doLethes
Remígio Costa
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Uma bela relíquia, o cachecol à Porto, de uma linda recordação, como foi essa epopeia de Viena!
ResponderEliminarAbraço
Armando Pinto